Maniçoba

Meu contato com a maniçoba aconteceu logo na minha primeira refeição em Belém, na viagem que eu e dois ex-alunos (Eric e Myltom, também aprovados) fizemos para realizar a prova objetiva do concurso. No restaurante havia uma grande panela de barro com uma gororoba preta-esverdeada cheia de pedaços de porco boiando. Nos entreolhamos sem entender o que seria aquilo. O garçom explicou que era maniçoba, uma “feijoada sem feijão”, feita com a folha da mandioca.

Que coisa horrível! Prometi a mim mesma que nunca, por dinheiro algum, comeria aquilo. Não consigo descrever sem baixar o nível, ou fazer analogias nojentas. Para não magoar meus amigos paraenses, transcrevo um trecho da revista Nosso Pará (foi uma paraense que escreveu!): “As pessoas olham desconfiadas. Sejamos sinceros: por divinamente saborosa que seja - e é - a maniçoba, à primeira vista, mais parece excremento fresco do gado.” Blurgh! E o cheiro? Bem, o cheiro é muito bom, forte, que impregna o ambiente. Uma louca mistura de mato fresco com leves toques de toucinho defumado. Realmente cheira muito bem!

Na segunda viagem a Belém, já para as provas práticas de taquigrafia, eu e meus alunos nos deparamos novamente com a iguaria. Repetida a promessa de nunca comer aquilo Deus-me-livre-e-guarde, reparei que Eric havia pego um pouquinho para experimentar. Corajoso, ele! O repreendi, afinal tínhamos acabado de fazer uma prova a 110 ppm (palavras por minuto), e no dia seguinte teríamos outra a 115 ppm! Imagine fazer uma prova dessas com dor de barriga! Seria muita tolice! Mas ele insistiu dizendo que era só um pouquinho. Tolice... Quando ele provou, sorriu e disse que era bom. E comeu com gosto. Fiquei na corda-bamba, a vontade de experimentar comidas novas lutava contra o bom-senso, o receio de passar mal e a aparência nada convidativa da comida.

Não resisti. Peguei uma micro porção do prato do Eric e comi receosa. “Lá vai a Lísia comer coisas esquisitas em véspera de prova”, pensei. Provei. Égua! Que sabor diferente, selvagem, exótico! DELÍCIA! Deixei de lado qualquer lembrança de prova no dia seguinte (bem como o frango grelhado que estava comendo) e fiz um prato enorme de maniçoba com arroz! Indescritível a sensação. É um gosto encorpado, forte, que leva à compulsão... só consigo parar de comer porque não aguento mais, ou porque acabou! A carne fica muito macia, igual manteiga, e derrete na boca. A maniva tem gosto de floresta, de mato fresco, de terra molhada, de Amazônia... pronto, já salivei! MUITO BOM!
Mana, comer maniçoba pela primeira vez é uma experiência única, pois é o único sabor que conheço que não me remeteu a nenhum outro já experimentado. Não tenho lembrança de nada parecido! Só provando para saber. É impossível ver maniçoba sem comer! Eras, o cheiro me aperta o estômago, dá fome.
Esse sim é pai-d’egua!
De tudo que já provei aqui, é de longe, meu prato preferido!


Vamos às curiosidades:
  • A folha de mandioca (macaxeira) utilizada se chama maniva . A folha, sem os talos, é moída miudinha (foto ao lado), e cozida com água e toucinho cru por 7 dias sem pausas, até que o verde enegreça, amacie e encorpe. Se for maniva de mandioca-brava (que em Brasília chamamos de mandioca amarela), ferve por 15 dias, pois é mais amarga.
  • A maniva possui um ácido extremamente tóxico (cianídrico), que só com o cozimento é liberado. A folha mal cozida pode levar à morte. Pergunto novamente: quantos índios morreram até descobrirem isso? Pelo menos 7, um a cada dia, até sobreviver o último – penso eu!
  • No sexto dia a maniçoba é temperada. Entram na panela o bucho, o bacon, a calabresa, o chouriço, a carne de porco, a costela e, é claro, a pimenta de cheiro, o alho amassado e a cebola. Ingredientes semelhantes aos da feijoada.


Fontes:
Wikipédia
www.revistanossopara.com.br
www.portalamazonia.locaweb.com.br

Comentários

Anônimo disse…
Amiga, ainda bem q vc foi corajosa e experimentou!! Sim, MANA, pq é uma delícia!!!!! Adorei!!!! Beijos e saudades!!!!! Kiti

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